“Eu não vou saber me acostumar, sem sua mão pra me acalmar, sem seu olhar pra me entender, sem seu carinho, amor, sem você. Vem me tirar da solidão, fazer feliz meu coração...”
Esse é um trecho da canção “Amor Perfeito”, do eterno rei, quer gostem, quer não, Roberto Carlos, o romântico de todos os tempos. Eu estava em meu carro e ouvia essa música, quando fui invadida por uma tristeza infinda. E comecei a me lembrar do que acabara de se passar comigo. Eu havia ido a uma consulta médica num Hospital e ao chegar, ainda lá estavam alguns pacientes, aguardando atendimento. Havia um senhor numa cadeira de rodas, acompanhado de uma enfermeira, uma senhora sentada numa das poucas cadeiras disponíveis, eu e um homem também de pé. Nesse exato momento, dois médicos chamaram pelos próximos clientes e eu, a enfermeira e o homem, que não posso chamar de senhor por ser bastante jovial, nos sentamos. O senhor fez uma brincadeira qualquer com sua enfermeira que sorriu e logo começou a conversar comigo. Perguntou-me se eu conhecia o médico e eu lhes disse o que sabia a respeito do mesmo, comentando que jamais vou a um profissional, sem uma indicação. Ela falou também sobre a oftalmologista com quem o senhor se consultara e eu fui logo indicando a minha, que também atende no mesmo hospital. O fulano olhava e sorria, ao que eu retribuía. Mas, quando ele me pediu que repetisse o nome da médica, já com uma caneta e um cartão em mãos para anotar e eu lhe perguntei se também estava precisando desses cuidados, é que fiquei sabendo que ele era filho do tal senhor. Mas em nada se pareciam... O pai era bem moreno e ele, com a tez bem clara, cabelos pretos e um lindo par de olhos azuis... A enfermeira disse que ele era como a mãe. Calado, se limitava a sorrir e a ouvir, enquanto nós outros três tagarelávamos. O médico chamou o senhor pelo nome e eles entraram no consultório. Eu me deixei ficar ali, pensando naquele rosto que me lembrava muito o do ator Paul Rudd, protagonista do filme “Razão do meu afeto”. Quando saíram, pararam para dizer o que acharam do médico e, a seguir, o filho pediu um táxi próprio para cadeirante, pelo celular. Eu ainda perguntei se moravam próximo dali e foi ele quem me respondeu que sim, que moravam na Tijuca. Despediram-se e seguiram em direção à saída, para aguardar o táxi. Novamente, me deixei ficar ali sentada, pensando em como teria agido em outros tempos e lamentando não ter tido a oportunidade de conhecer um pouco mais sobre o dono daqueles olhos azuis. O médico ainda atendeu a um caso de emergência, antes de me chamar. Depois de atendida, me dirigi a uma cafeteria que há, lá num cantinho do pátio do hospital, e pedi um mate. Terminando, fui em direção à porta e percebi que um senhor me olhava atentamente e continuou a fazê-lo, enquanto eu deixava a cafeteria. Ele chegou a sair, com um cigarro na mão, e me olhava, enquanto eu seguia para o meu carro. Entrei e deixei o hospital. Foi quando ouvi a música citada e fui invadida por uma enorme onda de tristeza. E eu me perguntava porquê? Sentia falta de determinada pessoa? Gostaria que um dos meus muitos amores ali estivesse, naquele momento? Mas, não! Eu sentia falta de amar! Eu sentia falta do sentimento amor e de tudo de bom que ele encerra em si mesmo. Sentia falta do pacote que ele nos traz. Há um ano e meio que eu só saio para ir a médico, dentista, Bancos e supermercado... E sempre com o tempo muito contado, quase exíguo. Não há como conhecer alguém desse jeito. Mas hoje, por duas vezes eu me percebi viva e, ao ouvir a música, eu soube que eu precisava voltar a amar, voltar a ter alguém a quem pudesse dizer “vem me tirar da solidão, fazer feliz meu coração...”! O amor nos dá uma outra qualidade de sobrevida! Há dois anos sozinha, eu achava que outras formas de amor iriam preencher essa lacuna, mas me enganei e muito! Cheguei até a escrever sobre isso. No entanto, hoje, depois do que aconteceu por duas vezes comigo no hospital, eu entendia que teria que assumir, como antes, a exemplo de Roberto Freire, que “só acho suportável viver quando estou amando”!