Come in! You may stay with me!

É um prazer enorme ter alguém compartilhando do que penso e escrevo, como se estivesse, realmente, num "divan". A propósito, esta é a foto do divã usado por Freud, em seu trabalho de psicanálise. Ao deitar-se, sem se distrair com a presença visível do analista, o analisando tem uma experiência emocional diferente, concentrando-se muito mais profundamente.


Quem me seguir, me fará companhia! E é sempre bom ter alguém por perto...

Obrigada! Venha sempre que quiser. Ainda estou começando...

domingo, 25 de setembro de 2011

CENAS REAIS (Cont.)


Abri a porta de meu apartamento, já lhe pedindo que, por favor, não reparasse, porque era a casa de alguém que ficava fora o dia inteiro e só tinha tempo para arrumar tudo, no final de semana. Ele andou, bem à vontade pelo pequeno espaço em que eu vivia, elogiou e se dirigiu à cozinha, onde eu já estava,preparando copo e gelo para servi-lo. Eu usava um tipo de filtro da época, duplo, em que a água filtrava passando de uma parte à outra. Ele era amarelinho e tinha sempre um copo embaixo da torneirinha, caso viesse a pingar. Ele entrou, pedindo licença para apanhar água e foi pegando, naquele copo mesmo, na maior simplicidade. Eu o impedi, alegando que o copo ficara ali, pelo menos aquele dia inteiro e não estaria limpo. Peguei outro e lhe entreguei. Ele se serviu de água e continuou conversando, sempre muito à vontade. Entreguei-lhe a bebida e fomos para a varanda, onde nos sentamos e, bem acomodados, continuamos nossos assuntos. Parecíamos grandes amigos. Isso ainda durou até que ele se aproximou e, acariciando-me, dizia-me coisas gostosas de se ouvir. A varanda tinha portas para a sala de visitas e para a minha suíte, onde fomos parar.

Eu já vivi muita coisa ruim, mas também me foi dado experimentar muita coisa boa! Ali estava eu, não em uma cena de novela, mas na minha suíte, e isso era um fato, era real; não com um ator, mas com um homem que queria ser visto e tratado apenas dessa maneira, como o homem que era. Somente para uma amiga eu descrevi, detalhadamente, tudo o que se passou naquela noite. Mas saibam que foram momentos muitíssimo agradáveis, novos e tão inesquecíveis que ainda me lembro de cada gesto, cada palavra, cada expressão facial, cada carícia, cada mínimo detalhe. Já era bem madrugada quando ele se foi. Nós ambos trabalhávamos na manhã seguinte. Eu, mais cedo do que ele, e isso o preocupava. Antes de ir, docemente, me perguntou se poderia voltar, porque era o que gostaria de fazer. Evidentemente, eu lhe disse que poderia voltar sempre que quisesse. E nos despedimos! Ele me tinha dito onde morava e era bem perto de mim, do outro lado do canal. Na manhã seguinte, levei minha amiga ao toalete e, não me contendo mais, contei-lhe, resumidamente, minha experiência da noite passada. Foi preciso que ela fosse passar comigo o final de semana seguinte, para que eu tornasse a lhe contar, dessa vez, com detalhes. Lembro-me que nos deitávamos para dormir, e eu ficava descrevendo tudo, detalhadamente pra ela. Vez por outra, ela me perguntava: “E quando você o vê na televisão, o que sente?” Nada, eu respondia. O que esteve comigo era outro, não aquele. Dentro de mim, era como se fossem duas pessoas distintas e uma era aquela que todos podiam ver, bastava ligar a TV, na hora daquela novela. Só que havia uma outra pessoa e essa eu tivera o privilégio de conhecer e estar junto, por algumas horas. À medida que os dias se passavam, eu continuava achando que ele teria jogado fora o meu telefone, até a noite em que atendi a um chamado e lá estava aquela voz maravilhosa, me explicando que não anotara o meu número e sim havia decorado e, com tanto a decorar, esquecera-se do meu telefone, mas não de mim. Foi quando teve a ideia de ir ao meu edifício, no mesmo horário daquela noite e, ao encontrar com o mesmo Porteiro, pediu-lhe que o ajudasse, porque não sabia onde deixara o meu número e, como tínhamos amigos em comum, em São Paulo, ele estava incumbido de me entregar uma encomenda e só contando com o auxílio deste, com quem falava. Este, por sua vez, explicou que estaria abrindo um enorme precedente porque sabia que éramos conhecidos, mas que não poderia fazer isso, novamente. Procurou no fichário de moradores e lhe deu o número do meu telefone. Só então ele pode voltar a me ligar. Ligou e foi até minha casa, outra vez. E outras vezes mais. Infelizmente, a vida me pregou uma peça, eu tolamente vi tudo mudar. Inclusive eu, literalmente, me mudei para outro edifício. Apesar de ser no mesmo Condomínio, não havia quem lhe passasse o novo número, pois aquele Porteiro fora convidado a trabalhar em outro lugar, como motorista particular e também lá não estava mais. Ele nunca me deu uma forma de contato e eu, respeitando sua vontade, ou necessidade, também jamais pedi. Era ele quem me procurava e não eu a ele. De qualquer maneira, ainda que ele me encontrasse, minha vida seguia por outros caminhos que me impediriam de gozar daquela liberdade de antes. Mas ainda assim, ele ficou lá, escondidinho na minha memória e, vez por outra, eu me lembro daqueles momentos, de raríssima felicidade, que a vida me proporcionou naquele ano. Tempos depois, eu o vi saindo de um dos teatros do Shopping da Gávea e, meu primeiro impulso foi chegar até ele. Mas aquela fração de segundo, dessa vez, me fez recuar. Na verdade, havia passado o momento certo. Felizmente, no momento certo, eu soube aproveitar o que costumo chamar de presentes da vida.

4 comentários:

  1. Isso aí, mãezinha! A gente tem que aproveitar o que a vida nos dá NO MOMENTO em que ela nos dá! Adorei o texto, muito legal! ;) Ah, não temos como restabelecer contato com aquelas vizinhas do condomínio não? Eu me lembro muito de uma, acho que era Virgínia. Ela era linda, parecia você mais nova, e era muito próxima de mim. Não sei bem por quê, mas tenho uma sensação de que ela me deu aula de alguma coisa. Está certo? Beijos!

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  2. Nossa!!! Lindo demais!!! Que bom que aproveitou bastante esse momento,pois a vida é feita de momentos e devemos aproveitá-los como se fossem o último de nossas vidas.Bjs

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  3. Maria Helena:
    Acabei de ler seu blog,muito bom !!! Estou sem livros e sua história é linda e vc escreve lindamente..bjs
    Fiquei curosa em saber quem era o ator.

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  4. O último comentário, da prima Maria Helena Nascimento, eu copiei e colei da mensagem que ela me enviou. Algumas pessoas preferem comentar fora do blog, o que é uma pena! Como eu quis guardar o seu comentário, eu me utilizei desse mecanismo.

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