Come in! You may stay with me!

É um prazer enorme ter alguém compartilhando do que penso e escrevo, como se estivesse, realmente, num "divan". A propósito, esta é a foto do divã usado por Freud, em seu trabalho de psicanálise. Ao deitar-se, sem se distrair com a presença visível do analista, o analisando tem uma experiência emocional diferente, concentrando-se muito mais profundamente.


Quem me seguir, me fará companhia! E é sempre bom ter alguém por perto...

Obrigada! Venha sempre que quiser. Ainda estou começando...

domingo, 25 de setembro de 2011

UM ATOR EM MINHA VIDA


Nos anos 80, eu morava na Barra. Morei lá por 10 anos, embora trabalhasse no Centro da cidade. Os tempos eram outros, o tráfego era incomparável ao que se tem nos dias de hoje e, durante esse período, posso afirmar que vivi alguns dos melhores anos de toda a minha vida! Inicialmente, não! Eu me mudei pra lá, numa experiência conjugal, de juntar chinelos e escovas de dentes, mas que não deu certo. Só troquei de Bloco, dentro do mesmo Condomínio e, aí sim, vivi feliz por uns bons tempos. Estava acompanhada de minha melhor auto-estima e minha forma também contribuía para aliciar o meu ego! Acordava bem cedo para caminhar na areia molhada da praia, tinha amigos e saía bastante. Indiscutivelmente, nunca ri tanto em minha vida, como naquela época, em companhia de amigos. Lá, tive duas experiências incríveis e é sobre uma delas que eu gostaria de recordar e registrar aqui essas lembranças, procurando não deixar escapar nenhum detalhe deste episódio, dos vários que constituem a minha vida, bem vivida, por sinal. Posso dizer que conheci do que chamamos viver, de tudo um pouco, desde o melhor até o pior, o que fez de mim uma mulher rica em vivências. Não posso me queixar! O fato é que eu morava bem em frente a um daqueles enormes supermercados e, como acumulava dois cargos, passava o dia todo fora de casa, só chegando bem à noite. Em uma dessas noites, já na segunda metade dos anos 80, estava quase chegando em casa, quando me lembrei de que as condições de minha geladeira e armários me obrigavam a passar pelo tal supermercado. Assim que entrei, embora já tarde e bem tranqüilo o movimento, havia um não sei o quê fazendo com que as pessoas e funcionários comentassem baixinho. Comecei minhas compras e, enquanto andava por entre os corredores, constatei do que se tratava. Estava ali também um ator, muito conhecido, e naquele momento ele dava autógrafos para umas senhoras. Passei, não podendo deixar de olhar, e sorri ao observar seu carinho com suas fãs. Continuei apanhando o que precisava e, tendo terminado, me dirigi a uma das caixas. Enquanto eu arrumava as compras por sobre aquela esteira, vi que se aproximava da caixa ao lado, nada mais, nada menos que o tal ator. Simpaticíssimo, meneou a cabeça, como se me cumprimentasse, ao que eu correspondi. Aproveitei para parabenizá-lo pelo sucesso de sua novela, na época, e de como me surpreendera seu jeito carinhoso de atender aos fãs. Ele completou, comentando que entrara só para comprar aquelas embalagens, com vários maços de cigarros, e que só agora estava conseguindo sair. Bem, cada um voltou a se concentrar no que tinha que ser feito e, a seguir, fui direto com meu carrinho de compras para o carro. Tendo acomodado todas elas, entrei no carro e, procurando ser rápida, parei em frente a um retorno que, praticamente, me permitia atravessar a autopista e já estava no meu Condomínio. Enquanto aguardava a oportunidade de fazer isso, quem parou bem ao meu lado? Ele, o tal ator, sobre o qual só direi que era alto, muito bonito e com um sorriso cativante. Olhei, forçosamente o faria, e percebi que falava comigo. Abaixei o vidro e pude ouvir, com clareza, que ele me perguntava meu nome e onde eu morava. Respondi-lhe e apontei para o Condomínio em frente. Ele perguntou se eu me importava em lhe dar meu telefone. Ainda pensei, por uma fração de segundo, mas não achei mal nenhum e, para ser franca, imaginei que ele jogaria fora, depois. Dei-lhe meu número e vi que dava para atravessar e foi o que fiz. Notei que ele fez o mesmo e seu carro vinha atrás do meu. Ao entrar no meu Bloco, vi que ele seguiu e se foi.

Entrei em casa, liguei para minha mãe para contar-lhe o acontecido e, só depois fui guardar as compras. Quando fazia isso, o telefone tocou e eu senti um friozinho no estômago. Já não era hora d’eu receber telefonemas, então... seria ele? Atendi. Do outro lado, ele falou comigo como se já me conhecesse há muito tempo. Disse que gostaria de conversar e se eu aceitaria um convite para um drink. Novamente, tive que pensar durante aquela fração de segundo, fiquei apreensiva, mas não resisti e acabei por concordar. Ele se apressou em marcar para poucos minutos depois e disse que me aguardaria no estacionamento do meu Bloco. Nossos carros, os dos moradores, ficavam na garagem e aquele espaço era mesmo reservado aos visitantes. Fiz o que podia, no breve espaço de tempo que eu dispunha pra me arrumar e, por incrível que pareça, lembro-me do que vesti. Uma calça de jeans e uma camisa preta de veludo cotelê, ambas da Elle et Lui, minha marca preferida, na época. Usava o cabelo bem curtinho e natural, um tanto crespo, que se arrumava por si só. Desci e lá já estava ele à minha espera. Sem saltar, abriu a porta para que eu entrasse e saiu. Era muito comunicativo e conduzia nossa conversa com facilidade. Eu notava que ele se afastava, cada vez mais, de minha casa e, quando vi que já estávamos no Joá, perguntei-lhe o que procurava. Respondeu que estava procurando por um drive-in que existia por ali, mas que não estava achando. Eu lhe disse que sabia qual era, mas que achava que estava fechado, em obras, há algum tempo. E completei, perguntando o que ele gostaria de beber. Afirmei que eu não tinha muitas opções em minha casa, mas que considerava mais seguro e que havia lá um whisky muito bom, de que meu pai gostava muito. Ele achou uma ótima opção e voltamos para minha casa. Sempre conversando, naturalmente. Eu imaginava que ele queria ser considerado um homem comum e agi como se ele não fosse um ator, mas alguém a quem eu estava conhecendo. Ele tinha outras atividades e me falava sobre elas, durante o trajeto. Também perguntava muita coisa sobre mim. Mais calma e segura, me vi chegando ao meu Condomínio. Passamos pelo hall de entrada, educadamente ele cumprimentou o Porteiro, e seguimos para o elevador que servia à minha coluna e que ficava mais distante. Enquanto esperávamos, ele me perguntou se não me estaria causando nenhum constrangimento, subindo ao meu apartamento, e que ele temia que algum rapaz dali pudesse “forçar uma barra” e, diante de uma negativa minha eu ter que ouvir: “Ah, sim! Só o Fulano é quem pode subir?” Expliquei que não conhecia nenhum rapaz do Condomínio e, na verdade, ali eu só fizera amizade com mulheres da minha faixa etária. Subimos e abri a porta, já sabendo que para uma nova experiência. Não sabia qual. Sentia-me mais segura, porque aquele era o meu espaço e bastaria eu pegar no interfone para estar protegida. Não que esse fosse o pensamento predominante, mas aparecia para me assustar e tentar me impedir.

(Continua)

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