Come in! You may stay with me!

É um prazer enorme ter alguém compartilhando do que penso e escrevo, como se estivesse, realmente, num "divan". A propósito, esta é a foto do divã usado por Freud, em seu trabalho de psicanálise. Ao deitar-se, sem se distrair com a presença visível do analista, o analisando tem uma experiência emocional diferente, concentrando-se muito mais profundamente.


Quem me seguir, me fará companhia! E é sempre bom ter alguém por perto...

Obrigada! Venha sempre que quiser. Ainda estou começando...

sábado, 8 de outubro de 2011

Outro Presente


Como eu já comentei, aqui no divã, a vida nos dá verdadeiros presentes! São determinados relacionamentos que acontecem, quando menos se espera. Eu ganhei alguns presentes desses, durante a minha vida! Relacionamentos sazonais, ou como diz aquele texto que postei - “A Reason, a Season, or a Lifetime” – relacionamentos que acontecem “for a reason”, geralmente, uma bruta carência afetiva. A verdade é que, por uma razão, ou por uma estação, eles são muito bem-vindos, já que nos proporcionam um bem enorme, aliciando o ego, fazendo disparar a autoestima, trazendo-nos muita alegria e grandes momentos de inexplicável felicidade.

Ainda quando eu morava na Barra, resolvi ir até a praia numa tarde de sol. Eu não costumava ir à tarde, porque, geralmente, ventava demais, mas quis o acaso que nesta tarde eu fosse e, na travessia de balsa pelo canal, o que nos leva até bem próximo à praia, éramos só duas pessoas: eu e um homem parecendo mais velho que eu, e com todo jeito de estrangeiro, incluindo a pele muito clarinha. Lá chegando, me acomodei e percebi que o tal estrangeiro se acomodara bem próximo de mim. Já não me lembro bem por qual motivo, mas em algum momento nos falamos, acho que ele me perguntou pela hora. Disse que estava aguardando um amigo e que eram da Holanda. Falávamos em inglês e ele tinha uma conversa muito agradável. O tempo passou e chegou a hora de voltarmos ao Condomínio. A certa altura, nos despedimos, dizendo um ao outro, em que bloco morávamos, bem como o nº do apartamento. Cheguei em casa, tomei meu banho, enfim, voltei à vida normal. Já era noite, quando ele me ligou, pelo interfone, convidando-me a jantar e a conhecer seus dois outros amigos, incluindo o brasileiro que os hospedava. Tendo aceito o convite, lá fui eu até o outro bloco e fiquei conhecendo o brasileiro, morador do lugar, e o outro holandês que, afinal, não fora encontrar-se com o amigo na praia. Disse que havia deitado para descansar e acabara pegando num sono profundo, só acordando já com a sua volta. Confesso que não me lembro mais dos nomes, nem do brasileiro, a não ser o daquele que estava pronto para ser o meu presente: William. Embora seja esta a ortografia, a pronúncia é bem diferente da inglesa, ou americana. Segundo uma amiga, é um nome bastante comum na Holanda e o W tem som de V. Seria Vilam, a pronúncia, com a acentuação tônica no i. Bem, o William me chamou atenção assim que meus olhos o fitaram. Pareceu-me que era bem verdadeira a recíproca. O jantar foi algo muito simples, acompanhado de um vinho delicioso e de uma conversa infindável, com o meu mais recente presente. Notei que o outro se desconsertara um pouco. Acho que ele havia simpatizado comigo, sobre o que falamos tempos mais tarde, na ocasião em que decidimos que seríamos amigos. Tendo terminado o jantar, o brasileiro convidou-nos a sair para algum lugar, o que foi logo aceito pelo amigo, mas declinado pelo William que me convidou a ficar e a continuar com as nossas conversas. Bem, é lógico que eu aceitei. Assim, os outros dois saíram e nós ficamos conversando, bebericando vinho e ouvindo música. Fomos para a varanda, continuamos a nos conhecer e eu me lembro bem que só cheguei em casa, muito mais tarde, já de madrugada. Quando os outros dois chegaram, um deles, o holandês, foi bem de mansinho pela varanda, e chegou a nos flagrar, retornando ao seu quarto, como se nada tivesse testemunhado. Durante todo o tempo em que aqui ficaram, foi uma felicidade para mim. Ele dizia que veio ao Rio a trabalho, mas nunca deixou bem claro que trabalho era esse. Eu, de minha parte, estava mais preocupada em tê-lo como companhia, durante todo tempo livre que tivéssemos, já que eu trabalhava o dia todo. O fato é que foi um período de muitas alegrias! Ele era lindo! Tinha um corpo super bem cuidado e sua alimentação era muito rica: muitas frutas, proteína, café preto sem nenhum açúcar, são algumas coisas que ainda me lembro bem. Passamos a ficar mais em meu apartamento. Mas, chegou o dia em que ele retornou à Holanda. Eu sofri demais, nos dias que se seguiram. Minha amiga, aquela que queria saber com detalhes sobre o ator, ela ia para minha casa, para não me deixar só, mas a falta dele era algo imenso, doído e para o quê eu não encontrava remédio. Essa mesma amiga conhecia um brasileiro em Amsterdã. Não sei se ainda hoje é assim, mas naquela época, ele era dono de uma churrascaria naquela capital. E ela o fez de intermediário para a entrega de algumas coisas que eu vinha separando para o William. Lembro que era época de Copa do Mundo, e eu havia comprado uma camisa do Brasil, feita por uma conhecida, em edição muito limitada. Havia também uma fita cassete que eu mesma gravara com algumas de nossas músicas, ou porque ouvíamos juntos, ou porque eram de seu agrado, mas todas brasileiras. Havia, também, uma carta minha, onde eu depositava, em letras e frases, toda a minha saudade e o meu bem querer por ele. Continuei minha vida e meu trabalho. Mas, meses depois, qual não foi a minha surpresa quando, de repente, quem me fala ao interfone? O William. Ele estava de volta e eu já temia pelo sofrimento, quando ele se fosse, novamente. Mas isso seria mais tarde! Agora ele estava ali, bem pertinho de mim e dizia, com todas as letras, que precisava me ver. E houve um... recomeço? Uma continuação? Não sei bem como rotular o que se seguiu. Eu não me permitia mais que tudo fosse tão intenso, por causa do momento em que ele teria que dizer adeus. Eu continuava sem saber ao certo o que ele vinha fazer no Brasil. Também não poderia me enganar a ponto de achar que ele não teria ninguém, em seu país. Mas, a razão fica de lado, em ocasiões como esta. Mais um tempo de felicidade, muito riso, paixão, carinho... até que ele teve que voltar ao seu país. Desta vez, o sofrimento foi mais contido, controlado e eu precisava entender se era isso mesmo que eu queria levar adiante. Outros tantos meses se passaram e, num momento de intenso trabalho, em que eu participava de uma campanha importante, ele me ligou. Estava hospedado num dos hotéis da Barra e não mais na casa do amigo brasileiro. Iria ficar menos tempo, mas queria me ver. Bem, eu não sei como, mas encontrei palavras para dizer-lhe que não o veria mais. Que eu estava assoberbada de trabalho, que eu queria evitar mais sofrimento quando ele se fosse e, também, porque eu não me sentia segura sem saber sobre ele, algumas coisas de grande importância para mim. Não sei mais o que eu disse, mas sei que, a partir daí, nunca mais o vi, ou tive notícias suas.

É o que chamo de relacionamento sazonal. Num determinado momento, um dos dois entende que não é para continuar e que é hora de um ponto final. Mas, e o que ficou? E o que se viveu? E o que se foi feliz? É isso que vale a pena, quando a vida nos apresenta um desses presentes.

2 comentários:

  1. Emocionante e triste ao mesmo tempo,mais a cada palavra e frase vai nos envolvendo com sentimentos e me fez viajar como se estivesse vendo tudo nos minimos detalhes o que foi vivido.É maravilhosa a forma como escreve,agora nunca mais deixarei de vir aqui e aos poucos vou lendo um a um os que ainda não li.Beijos carinhosos e que seu domingo seja de muita paz.

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  2. Eu me encontrei na sua história. Sempre procurei ser sua coadjuvante. Não sei se consegui. Estou encantada com as suas narrativas, você tem estilo. Tenho a impressão de que a conjunção de inteligência com sensibilidade acaba em sofrimento. Parte eu já conhecia, mas algumas coisas, especialmente sobre a D. Léa, eu desconhecia. É interessante como as pessoas têm fórmulas de sucesso para a vida alheia. Conheço a bondade e solidariedade de sua mãe, que me acolheu com Ana Carla num momento de insanidade alheia. Aproveito para agradecer a ela, a você e ao Luiz, naquela época casado com você. Minha amiga, jogamos nos números errados e a vida não tem rascunho. Somos tão ignorantes/ingênuos que bem que deveríamos merecer tal chance, mas... Sei que vc ganhou um "presente" que muita mulher gostaria de ter tido o privilégio de ganhar. Quanto ao Jacob que levou os presentes para o William, estive com ele este mês. Continua exatamente como era: uma pessoa alegre, simples, gosta de cantar, agradar e se divertir muito. É uma pessoa do mundo. Eu já percebia isso naquela época. Saiba que o que mais admiro em você é que jamais a vi acovardada diante das situações que teve que enfrentar. Gosto muito de você, há 26 anos, que é o tempo que temos de amizade. Se precisar de mim, não deixe de falar, se eu puder, certamente, ajudarei.
    Com muito carinho da
    Cris

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