Come in! You may stay with me!

É um prazer enorme ter alguém compartilhando do que penso e escrevo, como se estivesse, realmente, num "divan". A propósito, esta é a foto do divã usado por Freud, em seu trabalho de psicanálise. Ao deitar-se, sem se distrair com a presença visível do analista, o analisando tem uma experiência emocional diferente, concentrando-se muito mais profundamente.


Quem me seguir, me fará companhia! E é sempre bom ter alguém por perto...

Obrigada! Venha sempre que quiser. Ainda estou começando...

sábado, 27 de agosto de 2011

Lindo, louro e de olhos azuis


Eu acabara de completar 20 anos e já trabalhava na Secretaria Municipal de Educação. Fui, com uma colega de trabalho a um “baile” no Clube, num sábado de setembro e lá, num dado momento, vi do outro lado do salão um rapaz lindo, louro, parecia ter olhos claros e usava uma camisa branca que, com a “luz negra”, iluminava todo seu rosto. Estava parado, de braços cruzados e olhava na minha direção. Eu me perguntava se ele estaria olhando pra mim. Imediatamente, falei com minha colega, fazendo com que ela o visse, o que não era nada difícil. Para minha alegria total, ela disse que sabia quem era, pois pertencia a um grupo de amigos dos quais ela conhecia um. Insisti para que ela desse um jeito de falar com seu conhecido, para que ele nos apresentasse. Não sosseguei, enquanto não consegui. Antes que o baile terminasse, estávamos dançando, eu e o louro lindo, de olhos de um azul indescritível; ela e o tal conhecido. Saímos juntos os quatro, logo no dia seguinte e começamos a namorar. Eu ficava em êxtase, olhando para aquele rapaz, de traços finos e, muito insegura, temendo perdê-lo, mal o tinha conhecido. Os dias iam passando e nós continuávamos namorando. Ele gostava de sair para jantar fora e, depois, ir a um cinema, ou teatro. Mas nem sempre era possível este tipo de programa. Não ganhava bem, não tinha carro e fazia faculdade, à noite. Eu comecei no ano seguinte. Nada, mas nada mesmo era melhor do que, ao descer a rampa da faculdade, dar de cara com ele, esperando por mim. Eu estudava num prédio, bem ao lado do antigo Instituto Lafayete, quase em frente à Igreja dos Capuchinhos, na Haddock Lobo e meu horário de saída era às 22 horas, talvez um pouco mais, não me lembro bem. Eu cursava Letras e vivia carregando muitos livros. Acordava às 5 horas da manhã para ir para a Escola, onde eu trabalhava. Quando voltava sozinha no ônibus, eu acabava por adormecer e, na primeira freada, lá iam os meus livros pelo chão. Mas quando ele estava comigo, tudo era diferente. Seus braços me amparavam, ele segurava meus livros e havia muito carinho. Para ele ficava mais difícil vir até minha casa e voltar para a dele. Naquele tempo não havia celulares; eu ia à tarde para a faculdade e quando ele aparecia era sempre uma surpresa, uma agradável surpresa. Eu sabia que era um sacrifício para ele, cada vez que ia me buscar.Mas nada me deixava mais feliz. Eu o amava demais! Fomos tocando nossas vidas. Já tínhamos, cada um de nós, o seu próprio carro. Em 1972, no Dia dos Namorados, ficamos noivos, embora eu notasse que ele não havia sido talhado para o casamento. Acho que ficou noivo porque já namorávamos há algum tempo e ele sabia que isso era do meu agrado. Por esta época, já frequentava minha casa, o filho de um amigo de meu pai e de meu avô, que vivia às voltas com assinaturas para abrir um ou mais Diretórios e se candidatar.Mas, meu ainda namorado vivia me dizendo que o motivo dele aparecer tanto era outro. Ele acreditava que havia um interesse maior por mim. Era um homem com a vida encaminhada, doze anos mais velho que eu e casado. Já noivos, isso continuava acontecendo: ele aparecendo e meu noivo me fazendo crer que era por minha causa. De um lado estava meu noivo, um rapaz lindo a quem eu amava demais,embora achasse que ele não iria se casar. Havia nascido pra ser filho e “curtir” a vida ao seu jeito. Muitos amigos, futebol, cerveja e corridas de cavalo. Do outro lado, aquele homem mais velho, com a vida ajeitada e, sobretudo, ambicioso. Seu pai comentava que seu casamento estava acabado por falta de filhos. E seu jeito de me agradar começava a funcionar. Não era bonito como meu noivo, mas era muito atraente e sedutor. Foi como se meu noivo estivesse sendo afastado, lentamente, de minha vida, enquanto a presença daquele homem ia se agigantando à minha frente. Achei por bem terminar o noivado. Um namoro sem brigas e cheio de afeto, mas que havia sido abalado por aquela situação. Eu parecia já não estar certa de meus sentimentos e, para mim, isso era o bastante para terminar e pensar, dando tempo ao tempo. E assim fiz. Meu noivo ficou inconformado. Seus pais falaram com os meus e queriam apressar o casamento.E eu achava que casar-me com ele já não estava mais nos meus planos, uma vez que a possibilidade de alguém, como o outro, estar desejando uma aproximação maior havia sido pra mim um motivo de grande dúvida, com relação à minha conduta daí pra frente.Apesar de todo sofrimento de meu ex noivo, que eu conhecia só parcialmente, dele continuei afastada e no final de 1973, mais próxima daquele homem. E o noivado não foi reatado. Mas a essa hora, meu tempo no divã já se esgotou.

Um comentário:

  1. Perfeita essa narração,enredo bem interessante que até tirou minhas palavras para esse comentário... :)

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