Come in! You may stay with me!

É um prazer enorme ter alguém compartilhando do que penso e escrevo, como se estivesse, realmente, num "divan". A propósito, esta é a foto do divã usado por Freud, em seu trabalho de psicanálise. Ao deitar-se, sem se distrair com a presença visível do analista, o analisando tem uma experiência emocional diferente, concentrando-se muito mais profundamente.


Quem me seguir, me fará companhia! E é sempre bom ter alguém por perto...

Obrigada! Venha sempre que quiser. Ainda estou começando...

segunda-feira, 29 de agosto de 2011

VINTE ANOS DEPOIS...


O relacionamento que se seguiu ao término de meu noivado foi algo que merece um livro para se falar a respeito. O saldo positivo foi o que ele me deu de melhor: minha única filha. Depois de seu nascimento, algum tempo depois, tomei a coragem necessária para romper, definitivamente, com aquela relação doentia.

Em 1993, na véspera do Natal, recebi um telefonema de meu ex-noivo. Dizia que havia se separado, que estava “de novo no mercado” e se eu queria ser sua namorada. Lembro-me, perfeitamente, de lhe ter dito que eu não era mais a mesma, aquela jovem com quem ele convivera até meados de 1973. Eu havia sofrido e o sofrimento havia me mudado e, talvez, não fosse mais a pessoa que ela esperava encontrar. Perguntou-me de todos e onde eu iria passar o Natal, se ele poderia ir até lá, já que estava com saudades de toda a família. Respondi-lhe que iria para a casa de minha prima, na Santa Clara, e ele ficou de passar por lá, logo após a meia-noite. Quando cheguei em casa de minha prima, contei-lhe a respeito e resolvemos manter segredo, para o caso dele não aparecer. Acho que uns 10 minutos após a meia-noite, tocou a campainha e todos se entreolharam, perguntando: Quem será a essa hora, se estamos todos aqui? Minha prima abriu a porta, e lá estava ele, mais magro, um corte de cabelo bem mais curto, mas bonito como sempre fora. E um de meus primos, lá no fundo da sala gritou: “Ei, cara! Você se conservou no formol?” Ele riu, entrou e, como sempre acontece em minha família, foi muito bem recebido. Sentiu-se à vontade e ficou ali conosco, até que eu, meus pais e minha filha nos retirássemos. Ele nos acompanhou e me pediu que nos víssemos mais tarde. Pedi-lhe que me telefonasse, para confirmarmos e que, se fosse o caso, havia muito a lhe contar. Vimo-nos na noite de 25 de dezembro e eu lhe falei, o mais resumidamente possível, do que tinha sido a minha vida até ali. Continuamos a nos ver. Eu morava numa rua da Tijuca, onde havia uma praça tranqüila e costumávamos andar de mãos dadas, enquanto eu ia lhe contando, com pormenores, tudo que havia me acontecido e o que eu temia em relação a ele, caso insistisse em ficar comigo. Ele disse que não temia coisa alguma e que estava certo de que só seria feliz ao meu lado e que eu lhe devia isso. Conversei com meu advogado que me alertou que já era tempo d’eu ser feliz e que seria eu a decidir. Continuamos a nos encontrar e, novamente, era como no tempo em que ele ia me buscar na faculdade: nada era melhor do que, ao voltarmos do trabalho, passearmos de mãos dadas, enquanto colocávamos toda a conversa em dia. Minha filha, com 5 anos nessa época, me perguntava, indignada: “Mas, então você tinha esse noivo bonito, com esses olhos azuis e deixou dele para ficar com o meu pai?” E esse”meu pai” era bem acentuado e acompanhado de uma carinha de quem não conseguia entender uma coisa dessas. Eu chegava a rir... Em 1994, estávamos morando juntos, embora ele só fosse separado de fato e não de direito. É preciso que se diga que daquele lado de lá, também as coisas não foram nada fáceis. Sua mulher não aceitava, seu filho nem queria vê-lo (ele se casara, é lógico, e tinha um filho, na época, com uns 10 anos). Do lado de cá, o pai de minha filha tentava nos acuar ao máximo. Mas estas coisas farão parte dos capítulos de um livro que ainda pretendo escrever. Quem mais sofria, sem dúvida alguma, era minha filha, nos dias de visitação. Até que eu consegui, em Juízo, depois de algum tempo, a suspensão desse direito do pai. O que interessa mesmo, excetuando o fato de que este “pai” conseguiu desempregar meu “companheiro”, mas que este entrou para uma outra firma, onde está até hoje, é que nos casamos, no civil, em 12 de junho de 1998 (o mesmo dia do noivado: Dia dos Namorados). Eu era bem insistente quanto a essa data... E pensava, quando finalmente tudo havia se tranqüilizado, que era chegada a hora de sermos felizes. Até chegamos a ser, penso eu. Não posso responder por ele. Viajávamos muito! Iamos para lugares como Penedo, onde nos hospedávamos numa linda casa com piscina e, com certeza, éramos felizes. São Lourenço também era bastante escolhido por nós, pois havia muita coisa para minha filha. Às vezes, até a convivência com outras primas que iam para lá, na mesma época. Além do mais, ela se orgulhava do padrasto bonito, que lhe comprava álbuns e figurinhas, que a levava e buscava nas festinhas de aniversário, que nas viagens lhe fazia companhia e ela sentia que, àquela altura, estava sabendo o que era ter um pai. Frequentávamos muito as reuniões em família, principalmente aquelas em casa de meus parentes, em Campo Grande. Minha filha já era uma adolescente, quando íamos aos hotéis-fazenda, em Conservatória. E isso acontecia com muita freqüência. Tínhamos também uma cadelinha, micro-poodle, que passou a integrar a família, mais adiante. Mas o surpreendente fato é que ele foi dando mostras de que não estava feliz e, no prazo de 1 ano, aproximadamente, ele se foi, em 02 de novembro de 2002. Eu nunca soube onde eu havia errado! Só sei que, em março de 2005, ele disse que gostaria de voltar, mas eu não estava disposta a correr o risco de outra separação adiante, uma vez que, como numa revanche, na última, foi eu quem mais sofreu. Pareceu-me mesmo uma revanche, do jeito que ele me falou,na noite em que lhe telefonei para saber o porquê de não ter dado certo. Ele que sempre fora muito calmo e educado, preferindo o silêncio a qualquer discussão, nessa noite me tratou com uma frieza bruta. Eu me queixei, dizendo-lhe que ele estava me magoando e ele retrucou:” É, eu também fui muito magoado, aos vinte e poucos anos, quando você me deixou para ficar com aquele lá!”

Em 12 de novembro de 2004, perdi meu pai, que ficara em cima de uma cama, por 8 anos. Em 03 de novembro de 2005, minha mãe se submeteu a uma cirurgia para a retirada de tecidos com células malignas, na mucosa bucal, mas felizmente sobreviveu muito bem, até dar sinais de uma Síndrome Demencial Senil, no primeiro semestre de 2007. Ainda sobrevive a esta Síndrome. O mês de novembro, há algum tempo, guarda pra mim o pior de cada ano .

O tempo passou, eu e meu ex-marido nos vimos algumas vezes, saímos, mas nada se assemelhava ao que eu já havia vivido com ele. E preferi não continuar. No entanto, hoje posso dizer, sem sombra de dúvidas que, de um tempo pra cá, ele é o maior amigo que eu tenho! Somente amigos!

Agora, certamente, vocês entenderão melhor o meu texto “Presente da Vida”. Naquele momento, era tudo o que eu precisava!

Um comentário:

  1. Lindo texto. Lembro muito bem do Natal que passamos todos juntos,como era bom!!! Com esse texto,pude conhecer um pouco mais da vida da minha madrinha e entender que nem tudo são flores nesse mundo onde tudo é vivido superficialmente por muitos e que os sentimentos das pessoas são como brinquedos.

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