Come in! You may stay with me!

É um prazer enorme ter alguém compartilhando do que penso e escrevo, como se estivesse, realmente, num "divan". A propósito, esta é a foto do divã usado por Freud, em seu trabalho de psicanálise. Ao deitar-se, sem se distrair com a presença visível do analista, o analisando tem uma experiência emocional diferente, concentrando-se muito mais profundamente.


Quem me seguir, me fará companhia! E é sempre bom ter alguém por perto...

Obrigada! Venha sempre que quiser. Ainda estou começando...

segunda-feira, 21 de novembro de 2011

Comandante Master (2ª parte)


Realmente, era necessário dividir essa minha história, até por que ela mesma não se deu de uma maneira ininterrupta. Como havia aquela pessoa que não admitia que eu saísse de sua vida, embora fosse o que eu vinha tentando e o que eu mais queria, qualquer outro relacionamento que eu tentasse não implicava numa total doação de minha parte. Tratava-se de uma pessoa difícil, e com certa posição e prestígio, podendo se utilizar disso para fazer o bem... e o mal. Eu sofria diversas ameaças e, tolamente, me amedrontava. Além disso, eu tinha muito mais liberdade se não ficasse repetindo a respeito dessa idéia de que me afastaria, definitivamente. Na verdade, eu era obrigada a fazer um jogo, para viver e conhecer um certo tipo de felicidade. Só que, se alguém se interessasse por mim, o meu jogo era aberto com quem se aproximasse. Jamais escondi a existência dessa pessoa que, inicialmente, mexeu muito com os meus sentimentos, a ponto de me fazer terminar meu noivado. Mas, como já mencionei em outros textos, não demorei nada para me dar conta de que eu errara, e muito, na avaliação inicial. Tratava-se, só muito mais tarde eu vim a confirmar, de uma pessoa mentalmente doente e eu buscava administrar a minha vida, sem jamais ter escondido de outro, que se propusesse a dividir comigo momentos felizes, a real confusão em que eu vivia. Havia, em sua carreira profissional, algo que ele queria muito e eu também trabalhava para que isso acontecesse, por que eu entendia que dessa forma, eu teria a minha alforria. Mas essa é uma outra história...

Meu relacionamento com o Denis teve início em novembro de 80. E nossa correspondência se manteve até novembro de 82. Ainda guardo suas cartas e os postais que me enviava, enquanto viajava. Era um excelente Comandante e foi escolhido por uma comitiva de políticos de São Paulo, em meados de 81, para pilotar sempre que eles viajassem e foi, também, quem pilotou o avião que conduzia a Seleção Brasileira, em 82, para onde ela fosse.

Posso dizer que, passado aquele início descrito em texto anterior, se seguiu uma outra fase, onde eu ia a Teresópolis, com minha mãe algumas das vezes, e convivi com seus filhos e sua adorável mãe. Tratava-me como a uma filha. Quando eu dormia lá, na manhã seguinte, me acordava com uma bandeja de café da manhã em suas mãos, muito bem posta e com uma variedade de coisas gostosas. Isso chegava a me causar um certo constrangimento, mas sei que ela o fazia com muito gosto. Passeávamos com as crianças e almoçávamos fora. Lembro-me de que seu restaurante favorito era o do Hotel Alpina, lá mesmo, em Teresópolis. Ainda guardo as poucas fotos que tirei num desses passeios com as crianças. Elas, mais a menina, tinham um olhar muito triste. O menino, bem mais novo, ainda não falava direito, era mais sapeca e risonho, como se tivesse sido menos atingido pelas desavenças entre os pais. Ela não! Era maiorzinha, retraída, falava baixinho. Era lourinha, de cabelos abaixo dos ombros. Ele, embora com os cabelos claros e olhos azuis, tinha a tez morena, como o pai. Mas se davam bem comigo. Ela, principalmente. Havia uma certa carência que eu procurava preencher com minha atenção e carinho. Eu comecei minha carreira profissional como professora primária e lidar com crianças era uma tarefa muito agradável para mim. Nos dias em que eu ficava para dormir, à noite, ele acendia a lareira e nós nos acomodávamos ali, aproveitando aquele calor gostoso, enquanto saboreávamos um delicioso vinho tinto. Natural do sul do país, ele entendia bastante sobre essa matéria.

O tempo foi passando. Ele se aborrecia com a ex-mulher, falava que ela o “chantageava”, mas nunca lhe perguntei a que se referia, exatamente. Eu via que ele sofria, porque amou muito a mãe de seus filhos. Por outro lado, ele gostaria que eu me definisse, em relação à minha vida em geral, principalmente àquela falta de liberdade por que eu vinha passando, sem estar casada, sem um compromisso maior. Quem estava de fora sempre achava que não era uma coisa tão complexa. Mas só eu sabia... Em suas cartas, falava, repetidas vezes, em liberdade para nós ambos. Ele, porque ainda sofria e achava que isso era uma prova de que não conseguira romper todos os vínculos com sua ex. Quanto a mim, minha falta de liberdade era gritante e eu tinha que saber lidar com tudo aquilo e ficar com a melhor parte.

Quando chegou o tempo em que se sentiu liberto, ele passou a cobrar de mim que eu gozasse dessa mesma liberdade. Mas eu não via como. A não ser, dando tempo ao tempo. Ele se dispunha a esperar o quanto fosse necessário, desde que eu não me afastasse. Não me pressionava, mas me mostrava alguns caminhos. Uma noite, ele me ligou, pedindo que o encontrasse em casa de uma de suas irmãs, aqui mesmo, no Rio . Disse que precisava falar comigo com uma certa urgência. Eu fui, naquela mesma noite. Lembro-me como se tivesse sido ontem! Quando eu cheguei, ele estava sentado no jardim. E antes que eu entrasse para cumprimentar as demais pessoas, ele me pediu que o ouvisse. Ele iria me apresentar uma proposta que entendia como sendo a melhor para nós todos, mas precisava de uma resposta naquela mesma noite. Havia uma possibilidade dele ficar baseado em Los Angeles e ele queria aceitar essa oportunidade, desde que eu e as crianças fôssemos com ele. E aí? Fugindo, eu teria a minha alforria, mas e as demais obrigações que me prendiam ao Rio? Filha única. Como deixar os meus pais? Meu pai ainda trabalhava no serviço público. E meus cargos? Eu acumulava dois cargos, também no serviço público e, dificilmente, conseguiria uma licença sem vencimentos. Era um momento em que não estavam deferindo nem mesmo licença prêmio! E como dizer tudo isso e fazê-lo compreender? Eu coloquei para ele todas as minhas preocupações e, ainda mais com a pressa necessária para que isso fosse resolvido, a resposta só poderia ser um não! Ele ficou visivelmente frustrado! E eu, absolutamente contristada! Falamos mais um pouco a esse respeito e, a seguir, eu entrei para estar com sua família. Logo que deu, uma de suas irmãs me perguntou qual havia sido a minha resposta à proposta apresentada. Expliquei-lhe, rapidamente, que eu não tinha como concordar, embora entendesse todas as suas razões. Perguntei-lhe se eu a decepcionara com a minha atitude e ela me respondeu que decepcionada ficaria, se a resposta fosse outra. Que ela não esperava de mim outro comportamento e que isso só vinha comprovar o que ela pensava a meu respeito. Agradeci-lhe imensamente o apoio, mas procurei deixar bem clara a minha preocupação com ele. Eu sugeri que ele aceitasse a oportunidade que se lhe apresentava e fosse sozinho. Uma outra opção, levando sua mãe e as crianças. Mas ele queria uma família e insistia em me levar!

O que eu poderia fazer para ajudá-lo, naquele momento?

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