Come in! You may stay with me!

É um prazer enorme ter alguém compartilhando do que penso e escrevo, como se estivesse, realmente, num "divan". A propósito, esta é a foto do divã usado por Freud, em seu trabalho de psicanálise. Ao deitar-se, sem se distrair com a presença visível do analista, o analisando tem uma experiência emocional diferente, concentrando-se muito mais profundamente.


Quem me seguir, me fará companhia! E é sempre bom ter alguém por perto...

Obrigada! Venha sempre que quiser. Ainda estou começando...

segunda-feira, 21 de novembro de 2011

A Viagem (3ª parte)


Sim, o que eu poderia fazer naquele momento? Como ajudá-lo, de que forma eu o atenderia, como estar a seu lado, colocando em prática aquele sonho? Por mais que eu pensasse a respeito, nada me ocorria. Cheguei a conversar com meus pais, mas também se assustaram um pouco e acabamos não encontrando nenhuma solução. Como ele só aceitaria o baseamento que, se não me engano seria por 2 anos, se eu também fosse, ele acabou optando por não ir e continuou baseado no Rio.

Depois disso, o nosso relacionamento teve uma sensível mudança. Ele entendeu que seria melhor para nós ambos, se continuássemos como amigos, sempre por perto um do outro, mas aguardando que eu resolvesse a minha vida em geral, de uma forma definitiva. Eu compreendi, perfeitamente. De que adiantava ele encontrar uma saída, se eu não pudesse acompanhá-lo? Seguimos com nossas vidas. Ele viajando, mas sempre me escrevendo e telefonando. Embora eu trabalhasse, costumava fazer pequenas viagens, com meus pais, ao interior de Minas, mas ainda que eu estivesse em Lambari, Caxambu, onde fosse, eu recebia suas cartas. Mas ele se queixava de não poder me ligar, quando eu estava fora.

Num determinado momento, sua ex-mulher apareceu e, não me lembro se de forma legal, ou não, acabou por levar consigo as crianças, para a Europa. Ele se abateu demais com o acontecido. Sentiu-se traído e muito mais sozinho. Preocupava-se com os filhos e sofria muito.

Não me recordo com plena certeza, mas creio que foi em Dezembro de 82, quando fomos a Minas, por ocasião do aniversário de minha mãe. No caminho de volta dessa viagem, eu fui direto à casa de uma amiga para apanhar uma encomenda que ela trouxera de fora para mim. Por uma dessas coincidências inexplicáveis, lá estava uma pessoa de Teresópolis, a quem eu havia sido apresentada pelo próprio Denis. E ele fez o seguinte comentário: “Que coisa horrível que aconteceu com o Comandante!” E eu, sem saber de nada, acabando de chegar ao Rio, perguntei: “O que aconteceu com o Comandante?” E a resposta pareceu-me um punhal, muito afiado, que se cravava em mim: “Você não soube? O Comandante sofreu um mal súbito e faleceu!”

Só me lembro de ter entrado em meu carro, onde meus pais me aguardavam, num choro convulsivo e repetindo: “Eu tive parte da culpa! Foi por minha culpa!” Tentei relatar-lhes, da forma como pude, o que eu acabara de ouvir. Meu pai tentava me acalmar, dizendo que não havia culpados, mas me doía demais! Ele não queria que eu dirigisse naquele estado e eu só queria chegar em casa, o mais depressa possível, e poder ligar para suas irmãs. Quem sabe essa pessoa se enganara? Quem sabe ele ainda estivesse hospitalizado? Tantas possibilidades me vinham à cabeça e eu não conseguia parar de chorar. E o pior é que quando chegamos, já era muito tarde e meus pais não me permitiram ligar. Aconselharam-me a fazê-lo, na manhã seguinte. Eu nem me lembro como passei aquela noite... Pela manhã, foi a primeira coisa que eu fiz. Liguei e, infelizmente, fiquei sabendo que eu perdera até mesmo a missa de 7º dia! Fui até lá, fiquei com sua mãe e irmãs por algum tempo, conversamos bastante e então eu soube que nem mesmo elas estavam aqui, quando ele se sentiu mal. Suas irmãs estavam nos Estados Unidos, para uma série de exames e confirmação de determinado diagnóstico dado àquela, a segunda que eu conheci. E ele entendeu que, mais cedo, ou mais tarde, sofreria outra perda e não resistiu. Foi tudo muito rápido!

Na realidade, foi o que aconteceu. Depois de uma extensa e dolorosa doença, sua irmã veio a falecer. Aquela adorável senhora perdera dois filhos, num curto espaço de tempo!

Pobre amigo! Pobre amor! Sua saúde não resistiu a tantos sofrimentos. Era uma pessoa sensível. Gostava de estar sempre perto dos familiares. Era um pouco retraído, triste e sua alegria era pilotar. Depois do afastamento dos filhos, que ainda não haviam regressado quando ele se foi, sua tristeza era bem mais visível. E no entanto, o que ele queria? Somente reconstruir sua família. Numa de suas cartas, ele me escreveu: “Escolha a casa e o bairro onde quer morar e vamos ser felizes!” Agora, isso me parece tão pouco...

Nenhum de meus relacionamentos jamais terminou de uma forma tão brutal, tão sem sentido e me causando tanta culpa, tanta dor! E a imagem que dele se eternizou para mim foi aquela, no aeroporto, numa época em que ele se sentia cheio de esperanças e, quando taxiando na pista me avistou no terraço panorâmico, não hesitou em abrir a janela do cockpit do avião que pilotava, colocou seu tronco para fora e, me acenando amplamente com seu braço esquerdo, gritava: “EU TE AMO! EU TE AMO!!”

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