Come in! You may stay with me!

É um prazer enorme ter alguém compartilhando do que penso e escrevo, como se estivesse, realmente, num "divan". A propósito, esta é a foto do divã usado por Freud, em seu trabalho de psicanálise. Ao deitar-se, sem se distrair com a presença visível do analista, o analisando tem uma experiência emocional diferente, concentrando-se muito mais profundamente.


Quem me seguir, me fará companhia! E é sempre bom ter alguém por perto...

Obrigada! Venha sempre que quiser. Ainda estou começando...

segunda-feira, 14 de novembro de 2011

No Aeroporto Internacional (1ª parte)


No texto que escrevi e postei no último dia 2, Dia de Finados, eu falava de umas poucas pessoas, dentre as inúmeras que participaram do que vivi em dados momentos, deixando marcas em minha mente e em meu coração. Em “Lembro-me ainda...”, mencionei o fato de como o Denis colocou sua cabeça para fora do cockpit do avião, para me acenar com um adeus. Hoje, escolhi falar de mais este amor-presente, mais um amor sazonal que, sem dúvida, serviu como todos os demais para muitas alegrias e especiais experiências mas, principalmente, preencheram minha modesta vida com ricas lembranças, para todo sempre. Que Deus não permita que eu sofra de nenhuma dessas doenças senis que nos roubam a recordação de fatos que, como num patchwork, são pedaços do que vivemos, porque, com certeza, tais recordações fazem com que eu me mantenha viva e feliz!

Terminado o meu noivado e tendo a oportunidade de conhecer melhor aquele pelo qual meus sentimentos se confundiram, logo, logo pude ter a certeza de que nada seria como o imaginado e, posteriormente, prometido. Era 12 anos mais velho que eu, mas o que me preocupou de imediato foi seu jeito instável de ser, sua forma autoritária de exigir e conduzir o que ia a seu redor. Quis voltar atrás e não tive como. Com ele, tudo era visto sob outra ótica. Imaginem se eu iria decidir que queria me afastar? Dizia que isso não era uma decisão unilateral e, como ele discordava, eu deveria esquecer-me dessa idéia. Nesse tempo, eu trabalhava e estudava, o que me permitia jogar com as atividades e o tempo, a fim de não vê-lo, ou vê-lo menos. Um dia, minha mãe me mostrou um anúncio de seleção para uma nova turma de Comissárias de Bordo que a Vasp queria formar. A primeira com base no Rio de Janeiro e preparada, também, aqui. Havia um certo glamour em torno dessa profissão e eu havia mencionado, certa vez, que se tivesse oportunidade iria experimentar. Por isso mamãe me apresentou aquele recorte, com tal notícia. Achei que ali estava a oportunidade de me afastar daquele homem que, em nada, se assemelhava ao que frequentava a minha casa, anos atrás. Eu estava sempre em fuga, digamos assim. E meus amores sazonais aconteciam nesses períodos. Lembram-se? “A reason or a season.” Bem, uma vez inscrita e tendo passado pela seleção, consegui uma licença sem vencimentos no serviço público e dei início a uma meteórica carreira na aviação. Não tendo correspondido em nada às minhas expectativas, a não ser financeiramente, eu fui a 1ª da turma a pedir demissão e voltei ao serviço público. Mas fiz amizades e, na noite em que eu conheci o Denis, eu estava indo para São Paulo, pra casa de uma amiga, para participar do encontro desta turma de Comissárias. Isso foi no início dos anos 80. Estávamos no Aeroporto Internacional. Os vôos, sempre atrasados por causa das condições climáticas, e e eu aguardando, enquanto lia um livro. Na primeira oportunidade, ele me perguntou para onde eu iria e, indicando sua irmã a seu lado, comentou que estava lhe fazendo companhia e que ela aguardava um vôo para o nordeste, onde encontraria seu marido, que estava a trabalho, para passar com ele o seu aniversário. Isso quer dizer que estávamos em novembro, porque se não me falha a memória, é quando ela aniversaria. Conversamos um pouco, os três, até o chamado para os vôos, quando nos despedimos e ele me pediu o nº do meu telefone. Não neguei. Segui para a minha aeronave que iria me deixar em Viracopos, ao invés de ser no Aeroporto de Congonhas, como eu esperava. Ainda consegui dividir um táxi com uma outra pessoa, chegando já de madrugada, na casa de minha amiga. Bem, tivemos um final de semana extremamente movimentado e agradável, até que chegou a hora de voltar. Já estando no Rio, um ou dois dias depois, recebi um telefonema do Denis me convidando para jantar com ele e com sua outra irmã, em casa desta, já que a primeira ainda não havia voltado. Não vi mal algum, uma vez que estaria em família. E foi mesmo desse jeito. Conheci sua irmã e suas sobrinhas, filhas de ambas. Uma tinha duas e a outra tinha três. Todas meninas e lindas. Tipos físicos diferentes. Esta sua irmã era mais doce e simpática que a outra. Sua casa era muito bem decorada e acolhedora. Senti-me bem-vinda! Correu tudo bem e, após o jantar, conversamos bastante e foi então que eu soube um pouco mais a seu respeito. No aeroporto, ele já me tinha dito que era separado e que trabalhava na Varig, onde era Comandante Master. Nesta conversa após o jantar, contou-me que se casara com uma moça natural da Rússia e que tinham tido um casal de filhos. Mas não tinha dado certo e, mesmo depois de já terem optado pela separação, um belo dia, ela simplesmente deixou o casal de filhos com uma babá e foi embora. Eles moravam em Teresópolis e as irmãs, na Ilha do Governador, onde tinham um Jardim de Infância. Quando isso aconteceu, ele voltava de uma viagem e estava no Rio. Um de seus vizinhos de lá telefonou para suas irmãs aqui, contando que as crianças estavam, praticamente, abandonadas. A primeira atitude foi buscá-las e acomodá-las,por um breve tempo, junto às tias. Mas ele achou melhor trazer sua mãe, que morava no sul, para se estabelecer com ele e os netos, na tal casa de Teresópolis. Eu sempre evito mencionar os nomes para garantir a privacidade das pessoas. Só mesmo o nome do Denis, que está em outro plano, que me sinto à vontade de mencionar. Ele tinha um acento bem sulista e um jeito de ser bem direto. Disse-me que tinha se interessado por mim e que, depois do que passou, era a primeira vez que isso acontecia e gostaria de saber se poderíamos dar início a um namoro, para que pudéssemos nos conhecer melhor, porque sua maior vontade era reconstruir o seu lar desfeito. Confesso que me assustei um pouco, mas achei que “muita água ainda iria rolar por baixo dessa ponte” e concordei. Ele era um homem muito educado, carente, gostava de contar sobre suas viagens e os lugares que conheceu, mas era bem triste. Muito mais tarde é que fui conhecer um sorriso seu! Ele foi o meu primeiro amor-presente-da-vida. Tantas coisas aconteceram e, para começar, não me lembro como, ele quebrou uma das pernas e, licenciado, acomodou-se na casa de uma das irmãs, o que me permitia vê-lo, com frequência. E eu o fazia. Todo meu tempo vago eu o passava na Ilha, ao seu lado , só regressando para casa, já no fim da noite. Bem, o fato é que terei muito a contar sobre esse relacionamento e seria oportuno dividi-lo em duas partes.

Enquanto ele ia se curando, nós íamos nos conhecendo e nos querendo bem. E da maneira intensa como eu frequentava a casa de uma de suas irmãs, a amizade entre todas nós, incluindo as meninas, foi acontecendo, naturalmente. Eu gostava de levar para elas uns livros lindos, que ainda tenho até hoje. O título de um deles é “Qual a cor do amor?”. As ilustrações eram uma graça e eles, de fácil e rápida leitura. Eram pequenos, com poucos textos, mas com grandes lições. As casas das duas irmãs eram bem próximas, isso é, indo de carro. E eu, às vezes, participava até mesmo de algumas de suas programações. Elas me contavam como conheceram seus maridos e falavam-me sobre suas famílias mas, sempre davam um jeitinho de me perguntar, como eu estava me sentindo em relação ao irmão. Eu me sentia bem. Tudo aquilo, para mim, era uma coisa só. Eu convivia com uma bela família e eu, como filha única, estava me sentindo como que num oásis. Na verdade, eu queria bem a todos eles. Começando por ele, é claro. Mas eu iria viver num outro mundo. Eu, ele e suas crianças que a essa altura, eu havia visto e convivido muito pouco, já que moravam, na verdade, em Teresópolis.

Já recuperado e tendo voltado ao trabalho, eu o levei até o Aeroporto. Ele já sorria e parecia tão feliz! Tão feliz a ponto de, neste dia em que o levei, ao taxiar na pista e me vendo no terraço panorâmico que, naquele tempo não era coberto, ele abriu a janela do cockpit e por ela passou todo o tronco para me acenar, amplamente, e gritar que me amava!

Este foi, sem dúvida, o primeiro amor-presente que a vida me deu!

2 comentários:

  1. Mãe, me apaixonei por este texto! Eu tenho certeza de que este Denis é o homem que eu teria escolhido para você. Sim, porque os filhos sempre sabem o que a mãe merece... Pena que eles não podem vir antes do pai. Quem sabe, assim, a seleção do pai poderia ser mais "eficaz"? rs!
    Gostaria de dizer que tenho muito orgulho de você. Amo o quanto você escreve bem. Você escreve com sentimento, não apenas conteúdo. Eu praticamente consigo ver suas expressões faciais ao ler este texto. Quase chorei ao final. Parece-me que esta cena, no aeroporto, daria um belo final de filme. Quem sabe um romance? Teria sido lindo! Estou aguardando a segunda parte desta história, com certeza quero saber mais.
    Mãezinha, você é uma mulher maravilhosa. Tenho muito orgulho de fazer parte da sua história. Você é inteligente, tão solta ao escrever, mas ao mesmo tempo, você respeita lindamente a gramática - o que é raro hoje em dia... Rs! Deve ter sido de você que herdei o amor pela escrita. Naturalmente, porque a inteligência nós herdamos da mãe, não?? ;)
    Amei este texto, e o anterior que li, porque me fizeram sentir como se eu mesma tivesse vivido isto tudo. E quem sabe eu vi isto tudo acontecer? Assistindo lá de cima, enquanto esperava ansiosamente minha oportunidade de vir ao mundo como sua filha! ^^ É como eu disse quando era pequena, "sou parte sua", logo, suas histórias parecem minhas também! :)
    Amo vc muito! Beijãão! E escreve logo a segunda parte! hahaha ;)

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  2. Filha, querida! Você sabe surpreender!! Fiquei emocionada ao ler seu comentário... Muito obrigada! Agrada-me, muito, quando você se interessa por coisas que me dizem respeito e aí, sim, elas passam a lhe dizer respeito também. E é só o que eu quero! Nós sempre tivemos uma história, juntas. E quando você se interessa, dá ênfase ao que vivemos. Mais tarde, você poderá ler tudo isso para a sua filha, quem sabe? Amo você! Beijinhos e muito obrigada!

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