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É um prazer enorme ter alguém compartilhando do que penso e escrevo, como se estivesse, realmente, num "divan". A propósito, esta é a foto do divã usado por Freud, em seu trabalho de psicanálise. Ao deitar-se, sem se distrair com a presença visível do analista, o analisando tem uma experiência emocional diferente, concentrando-se muito mais profundamente.


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domingo, 6 de novembro de 2011

Festivais de Canções


Podem até chamar de saudosismo, nostalgia,

afirmar que velha estou ficando,

mas sinto enorme vazio de poesia

nas músicas de hoje em dia.

A segunda metade da década de 60

foi marcada por vários acontecimentos

de grande importância política e social.

E a mais intensa forma de expressão

foi a da poesia, mais ainda a musical.

Cantava-se muito e, com as canções,

muito se dizia e muito se aprendia.

Os Festivais da Canção vieram com força

e só acrescentaram à nossa cultura.

A cada ano, era como se os compositores

mais se esmerassem, mais caprichassem,

na tentativa de alcançar o primeiro lugar.

Mas... que primeiro lugar?

O do júri? Ou o do público?

O povo por tensões passava

e as músicas, sem dúvida, eram a sua compensação.

Quem não se lembra de que Chico

estava à toa na vida, até que seu amor o chamou

pra ver a banda passar, cantando coisas de amor?

Mas ao saber que sua Banda alcançara o 1º lugar,

foi, em prantos, ao júri suplicar

que o fizesse empatar

com a composição que ficara em 2º lugar.

“A Disparada”, de Geraldo Vandré,

que comparava a vida do gado

com a vida que a gente levava

foi, pelo próprio Chico, melhor considerada.

E assim se deu um empate,

o único dos Festivais.

Quem não se lembra de “Ponteio”,

“Roda Viva” e de “Alegria, Alegria”, de Caetano?

E Elis, cantando “Arrastão”, enquanto balançava os braços,

num movimento de subida e descida,

quem não se lembra?

E de Sérgio Ricardo, perdendo o autocontrole

e arremessando seu violão por sobre a platéia?

Apesar disso, ali estava a cultura,

uma cultura popular que se estendia pelo país

para ser popular brasileira.

Nascia uma nova safra

de compositores e intérpretes

que não se importava tanto

com o momento político que vivíamos,

mas com o surgimento de uma nova geração

e de um momento ímpar na nossa canção,

o da “música popular brasileira”,

com um estilo próprio que, indo além do regional,

fazia sucesso em toda nação!

E faziam mesmo grande sucesso

as canções dos Festivais!

O de 67, também televisado,

foi parar no Guinness Book,

pelo Ibope alcançado e,

dizem, nunca mais superado...

“Sabiá”, “Travessia”, “Andança”,

“Margarida”, “Carolina” e “Luciana”,

“O Sonho”, “Feira Moderna”, “Cantador”,

“Casa no Campo”, “Universo no Teu Corpo”

e “O Amor é o meu País”, de Ivan Lins,

são algumas das inúmeras músicas

que se fizeram conhecer

apenas por participar

dos nossos Festivais!

Em 66, os Beatles se apresentavam juntos,

pela última vez!

Ainda em 66, um Marechal foi eleito

Presidente do Brasil, pelo Congresso Nacional.

Em 68, o Congresso Nacional foi fechado,

depois de publicado o que se tornaria mais famoso

que os festivais: o AI 5 – Ato Institucional nº 5,

quando alguns compositores desta safra

tiveram que buscar o exílio.

Também em 68, o Cirurgião Zerbini e sua equipe

realizavam, em São Paulo,

o primeiro transplante cardíaco da América Latina!

E os Festivais sobreviviam, tornaram-se Internacionais,

durante a década de 70.

E nós continuávamos com a nossa música e o seu crescimento:

Tropicalismo, MPB, Bossa Nova e Jovem Guarda.

Tudo tão melhor do que um Rock in Rio!

Tudo tão nacional, no exato período em que disso precisávamos!

Eu lamento pelos que não conheceram esta época da nossa música,

até porque, muitos de vocês, ainda estavam por chegar aqui.

Mas eu... eu estava lá, todo tempo

e é por isso que sinto tanta falta!

Hoje, vejo determinadas classes sociais

cantando só músicas internacionais,

para evitar o funk, axé, pagode e sertanejo

que, não tendo caído no gosto nacional,

podem ser considerados ainda regionais.

Sem mencionar a falta de poesia,

o que tanto existia na época dos Festivais!

Um comentário:

  1. Maria Helena Nascimento postou, no Facebook:
    Sou sua fã,seus textos são lindos.Fiquei cantando Sabiá, baixinho.

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